terça-feira, março 18, 2008

2 de Fernando Pessoa... Depois Comento...

Álvaro de Campos
Todas as Cartas de Amor são Ridículas

Todas as cartas de amor são Ridículas. Não seriam cartas de amor se não fossem Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor, Como as outras, Ridículas.
As cartas de amor, se há amor, Têm de ser Ridículas.
Mas, afinal, Só as criaturas que nunca escreveram Cartas de amor É que são Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia Sem dar por isso Cartas de amor Ridículas.
A verdade é que hoje As minhas memórias Dessas cartas de amor É que são Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas, Como os sentimentos esdrúxulos, São naturalmente Ridículas.)


Fernando Pessoa
Cancioneiro
Autopsicografia

O poeta é um fingidor. Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve, Na dor lida sentem bem, Não as duas que ele teve, Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda Gira, a entreter a razão, Esse comboio de corda Que se chama coração.

2 comentários:

Anônimo disse...

De mim para mim mesma...
Como Prometi, comentar... Comentar que Esses textos falam por mim hj... afinal sou poeta com poesia perdida e anestésica... E talvez tenham cartas ridículas nas minhas gavetas...

Deborah Jesus disse...

somos duas rid�culas