quarta-feira, abril 08, 2009



O dia que decidi rasgar minha licença poética....

Acordei mais cedo, isso é algo que normalmente não costuma acontecer... principalmente as segundas feiras, afinal, segunda feira é o dia nacional de acordar mais tarde... Sair correndo pra alcançar o ônibus ou no meu caso esquecer a caminhada até o trabalho e aderir a corrida...

Quer mesmo saber? Nao consegui olhar no espelho aquele dia, ele me diria para não fazer o que há tempos eu vinha planejando... Os olhos de jabuticaba me pediriam pra não deixar partir... Afinal, aquele papel tinha me acompanhado por boa parte da nossa existência, nasci com ele praticamente grudado no meu pescoço era quase uma tatuagem, mas ela ia gravando mais com o passar do tempo...

Caminhei calada pelas ruas e nem percebi o momento que a chuva decidiu desabar sobre minha cabeça... O tempo estava tão nublado que quase não consegui perceber se era mesmo dia, e de leve comecei a ser abatida por uma imensa vontade de dormir...

Dormir e não acordar mais... Sabe quando você dorme e acorda dolorida? Dolorida sei lá porque, como se tivesse apanhado?
É assim que me sentia aquele dia, eu queria um edredom, pipoca, pijama, um filminho velho e fofinho tipo um que vi esses dias, um urso de pelucia? Não?! Meu cachorro, isso meu cachorro, ele seria a melhor compania...

Mas não, lá estava eu parada com aquele simbólico papel nas minhas mãos, aqulilo era praticamente a minha vida, era ela que eu ia queimar com aquele papel naquele momento...

Entao tirei todas as forças que me restavam e rasguei... Tentando facilitar a queima e a perda de mim...


Foi como um tiro no peito, algo que não iria parar de doer... Uma cicatriz eterna e cheia de reticências... Eu olhava aquelas folhas e meus olhos se enchiam de lágrimas, o sal já era bem presente na minha saliva...

E foi então que algo aconteceu...

Percebi que parte de mim tinha se ido naquele dia, mas a parte que ficou voltou a produzir... Como se ela crescesse novamente... E qual não foi meu maior espanto quando descobri que ela ainda estava lá... Inteira e tão intacta quanto no dia que nos conhecemos pela primeira vez...

Sim, aquele encontro mágico onde minha avó me dizia: Caru essa aqui é a letra A e com ela vc pode escrever seu nome... Só meu nome? Não, seu nome e o que mais voce quiser escrever...

Foi naquele dia que tudo começou... eu não podia por fim a tudo... Não podia, nem queria...
O dia que decidi queimar minha licença poética foi o dia que percebi que já nao podia viver sem ela...

Ana Carolina R Bastos -07/04/2009

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